quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Teatro Vila Velha inscreve para Oficinas de Capacitação

Fonte: ATarde

Estão abertas a partir desta segunda-feira, 27, as inscrições para as "Oficinas do Vila-Ponto de Cultura do Teatro Vila Velha", que acontecerão a partir do mês de setembro. Poderão participar integrantes de grupos artísticos de Salvador e Região Metropolitana, com idade entre os 17 e 25 anos.

As inscrições podem ser realizadas de até o dia 31, no próprio teatro.Os interessados devem apresentar um foto 3X4 e preencher uma ficha de inscrição disponível em no site www.teatrovilavelha.com.br/oficinas.

Os inscritos passarão por um processo seletivo e o resultado será divulgado no dia 4 de setembro. As vagas são limitadas. Serão realizadas as oficinas de iniciação à técnica teatral (iluminação cênica, sonorização e cenografia), iniciação a figurino e maquiagem, preparação corporal para cena e assessoria de imprensa para grupos artísticos. A oficinas começam a partir de 10 de setembro.

Serviço

Inscrições para a seleção: 27 a 31 de agosto/2007 – das 10h às 18h
Divulgação da seleção: 4 de setembro/2007 - no site.
Início das oficinas: a partir de 10 de setembro
Informações: pelo site www.teatrovilavelha.com.br/oficinas
e-mail
: comunicacao@teatrovilavelha.com.br ou pelo telefone 3083-4600.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Castro Alves: Navio Negreiro - 18 de abril de 1869

Nascido em 14 de março de 1847, Castro Alves, aos 22 anos, escreveu Navio Negreiro em São Paulo.

Acima, foto de escravos libertados pelas Marinha Britânica, que de 1808 a 1860 apreendeu 1,6 mil navios negreiros e libertou 150 mil pessoas.

Hoje, os ingleses comemoram 200 anos de abolição da escravatura. O Brasil foi um dos últimos países a banir o regime escravagista, mas até hoje a falta de mecanismos de inserção social desses escravos libertos perdura.

I

'Stamos em pleno mar... Doudo no espaço
Brinca o luar — dourada borboleta;
E as vagas após ele correm... cansam
Como turba de infantes inquieta.

'Stamos em pleno mar... Do firmamento
Os astros saltam como espumas de ouro...
O mar em troca acende as ardentias,
— Constelações do líquido tesouro...

'Stamos em pleno mar... Dois infinitos
Ali se estreitam num abraço insano,
Azuis, dourados, plácidos, sublimes...
Qual dos dous é o céu? qual o oceano?...

'Stamos em pleno mar. . . Abrindo as velas
Ao quente arfar das virações marinhas,
Veleiro brigue corre à flor dos mares,
Como roçam na vaga as andorinhas...

Donde vem? onde vai? Das naus errantes
Quem sabe o rumo se é tão grande o espaço?
Neste saara os corcéis o pó levantam,
Galopam, voam, mas não deixam traço.

Bem feliz quem ali pode nest'hora
Sentir deste painel a majestade!
Embaixo — o mar em cima — o firmamento...
E no mar e no céu — a imensidade!

Oh! que doce harmonia traz-me a brisa!
Que música suave ao longe soa!
Meu Deus! como é sublime um canto ardente
Pelas vagas sem fim boiando à toa!

Homens do mar! ó rudes marinheiros,
Tostados pelo sol dos quatro mundos!
Crianças que a procela acalentara
No berço destes pélagos profundos!

Esperai! esperai! deixai que eu beba
Esta selvagem, livre poesia
Orquestra — é o mar, que ruge pela proa,
E o vento, que nas cordas assobia...
..........................................................

Por que foges assim, barco ligeiro?
Por que foges do pávido poeta?
Oh! quem me dera acompanhar-te a esteira
Que semelha no mar — doudo cometa!

Albatroz! Albatroz! águia do oceano,
Tu que dormes das nuvens entre as gazas,
Sacode as penas, Leviathan do espaço,
Albatroz! Albatroz! dá-me estas asas.

II


Que importa do nauta o berço,
Donde é filho, qual seu lar?
Ama a cadência do verso
Que lhe ensina o velho mar!
Cantai! que a morte é divina!
Resvala o brigue à bolina
Como golfinho veloz.
Presa ao mastro da mezena
Saudosa bandeira acena
As vagas que deixa após.

Do Espanhol as cantilenas
Requebradas de langor,
Lembram as moças morenas,
As andaluzas em flor!
Da Itália o filho indolente
Canta Veneza dormente,
— Terra de amor e traição,
Ou do golfo no regaço
Relembra os versos de Tasso,
Junto às lavas do vulcão!

O Inglês — marinheiro frio,
Que ao nascer no mar se achou,
(Porque a Inglaterra é um navio,
Que Deus na Mancha ancorou),
Rijo entoa pátrias glórias,
Lembrando, orgulhoso, histórias
De Nelson e de Aboukir.. .
O Francês — predestinado —
Canta os louros do passado
E os loureiros do porvir!

Os marinheiros Helenos,
Que a vaga jônia criou,
Belos piratas morenos
Do mar que Ulisses cortou,
Homens que Fídias talhara,
Vão cantando em noite clara
Versos que Homero gemeu ...
Nautas de todas as plagas,
Vós sabeis achar nas vagas
As melodias do céu! ...

III


Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!
Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano
Como o teu mergulhar no brigue voador!
Mas que vejo eu aí... Que quadro d'amarguras!
É canto funeral! ... Que tétricas figuras! ...
Que cena infame e vil... Meu Deus! Meu Deus! Que horror!

IV


Era um sonho dantesco... o tombadilho
Que das luzernas avermelha o brilho.
Em sangue a se banhar.
Tinir de ferros... estalar de açoite...
Legiões de homens negros como a noite,
Horrendos a dançar...

Negras mulheres, suspendendo às tetas
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães:
Outras moças, mas nuas e espantadas,
No turbilhão de espectros arrastadas,
Em ânsia e mágoa vãs!

E ri-se a orquestra irônica, estridente...
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais ...
Se o velho arqueja, se no chão resvala,
Ouvem-se gritos... o chicote estala.
E voam mais e mais...

Presa nos elos de uma só cadeia,
A multidão faminta cambaleia,
E chora e dança ali!
Um de raiva delira, outro enlouquece,
Outro, que martírios embrutece,
Cantando, geme e ri!

No entanto o capitão manda a manobra,
E após fitando o céu que se desdobra,
Tão puro sobre o mar,
Diz do fumo entre os densos nevoeiros:
"Vibrai rijo o chicote, marinheiros!
Fazei-os mais dançar!..."

E ri-se a orquestra irônica, estridente. . .
E da ronda fantástica a serpente
Faz doudas espirais...
Qual um sonho dantesco as sombras voam!...
Gritos, ais, maldições, preces ressoam!
E ri-se Satanás!...

V


Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!

Quem são estes desgraçados
Que não encontram em vós
Mais que o rir calmo da turba
Que excita a fúria do algoz?
Quem são? Se a estrela se cala,
Se a vaga à pressa resvala
Como um cúmplice fugaz,
Perante a noite confusa...
Dize-o tu, severa Musa,
Musa libérrima, audaz!...

São os filhos do deserto,
Onde a terra esposa a luz.
Onde vive em campo aberto
A tribo dos homens nus...
São os guerreiros ousados
Que com os tigres mosqueados
Combatem na solidão.
Ontem simples, fortes, bravos.
Hoje míseros escravos,
Sem luz, sem ar, sem razão. . .

São mulheres desgraçadas,
Como Agar o foi também.
Que sedentas, alquebradas,
De longe... bem longe vêm...
Trazendo com tíbios passos,
Filhos e algemas nos braços,
N'alma — lágrimas e fel...
Como Agar sofrendo tanto,
Que nem o leite de pranto
Têm que dar para Ismael.

Lá nas areias infindas,
Das palmeiras no país,
Nasceram crianças lindas,
Viveram moças gentis...
Passa um dia a caravana,
Quando a virgem na cabana
Cisma da noite nos véus ...
... Adeus, ó choça do monte,
... Adeus, palmeiras da fonte!...
... Adeus, amores... adeus!...

Depois, o areal extenso...
Depois, o oceano de pó.
Depois no horizonte imenso
Desertos... desertos só...
E a fome, o cansaço, a sede...
Ai! quanto infeliz que cede,
E cai p'ra não mais s'erguer!...
Vaga um lugar na cadeia,
Mas o chacal sobre a areia
Acha um corpo que roer.

Ontem a Serra Leoa,
A guerra, a caça ao leão,
O sono dormido à toa
Sob as tendas d'amplidão!
Hoje... o porão negro, fundo,
Infecto, apertado, imundo,
Tendo a peste por jaguar...
E o sono sempre cortado
Pelo arranco de um finado,
E o baque de um corpo ao mar...

Ontem plena liberdade,
A vontade por poder...
Hoje... cúm'lo de maldade,
Nem são livres p'ra morrer. .
Prende-os a mesma corrente
— Férrea, lúgubre serpente —
Nas roscas da escravidão.
E assim zombando da morte,
Dança a lúgubre coorte
Ao som do açoute... Irrisão!...

Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus,
Se eu deliro... ou se é verdade
Tanto horror perante os céus?!...
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
Do teu manto este borrão?
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão! ...

VI


Existe um povo que a bandeira empresta
P'ra cobrir tanta infâmia e cobardia!...
E deixa-a transformar-se nessa festa
Em manto impuro de bacante fria!...
Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta,
Que impudente na gávea tripudia?
Silêncio. Musa... chora, e chora tanto
Que o pavilhão se lave no teu pranto! ...

Auriverde pendão de minha terra,
Que a brisa do Brasil beija e balança,
Estandarte que a luz do sol encerra
E as promessas divinas da esperança...
Tu que, da liberdade após a guerra,
Foste hasteado dos heróis na lança
Antes te houvessem roto na batalha,
Que servires a um povo de mortalha!...

Fatalidade atroz que a mente esmaga!
Extingue nesta hora o brigue imundo
O trilho que Colombo abriu nas vagas,
Como um íris no pélago profundo!
Mas é infâmia demais! ... Da etérea plaga
Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!
Andrada! arranca esse pendão dos ares!
Colombo! fecha a porta dos teus mares!

Foto do dia: Eclipse lunar visto da ilha de Hokkaido, Japão

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

II Seminário Baiano de Radiodifusão Comunitária: A Comunicação como fator de Transformação Social

Com o tema "A Comunicação como Fator de Transformação Social", o 2º Seminário Baiano de Radiodifusão Comunitária visa propiciar a discussão sobre a democratização e o acesso aos meios, incentivo à criação de canais comunitários de TV, Internet, Jornal e Rádio por parte da sociedade civil e de movimentos sociais organizados, e a configuração do mercado em relação às novas tecnologias, com a convergência de sinais e suportes de áudio, vídeo e texto.

A continuidade desta iniciativa é uma parceria do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas de Rádio, TV e Publicidade da Bahia – SINTERP, Associação de Rádios Alternativas e Comunitárias da Bahia – ARCOBA e da Rede Brasileira de Educomunicação Ambiental – REBECA, com o apoio do Serviço Social do Comércio - SESC, Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC e Sindicato dos Jornalistas do Estado da Bahia.

O evento será realizado nos dias 29, 30 e 31 de agosto de 2007, no Centro Cultural da Câmara de Vereadores de Salvador.

INSCRIÇÃO

Doação de 2kg de alimentos estocáveis (exceto sal), que serão entregues as Instituições atendidas pelo Programa Mesa Brasil SESC. A inscrição poderá ser realizada através do site:www.ba.senac.br Mais informações: (71) 3340-4000 ou 3273-9767.

ALMOÇO

O SESC Comércio, na rua Torquato Bahia, 3, 1º andar, estará disponibilizando o almoço no valor de R$2,20 para os participantes que estiverem com o crachá do evento.

HOSPEDAGEM

Para os participantes vindos do Interior, o SESC Piatã está oferecendo diária no valor de R$20,00, com direito a café da manhã e jantar, e a Organização do evento irá disponibilizar um ônibus que fará o traslado até o Centro Cultural. Setor de Reserva do SESC Piatã - (71) 3367-8533/8520 ou reserva@sesc-ba.com.br

domingo, 26 de agosto de 2007

Projeto JamNoMam está de volta ao Solar do Unhão


Depois de alguns anos fora de circulação no Solar, o Projeto Jannomam, de elaboração e colaboração do baterista Ivan Huol, ganhou as ruas e estações de diversos pontos da cidade, somente retornando agora, neste sábado 25 de agosto, ao seu local de origem, o Museu de Arte Moderna da Bahia.

As jam sessions - termo usado para designar um misto de ritmos que vão do blues ao jazz, passando pelo rock - acontecerão sempre aos sábados, a partir das 18:00. A novidade é a mudança do local de apresentação, que antes acontecia no pátio de entranda em frente à igreja, para a parte inferior onde se encontra o estacionamento.

Para aqueles que estiverem a fim de curtir o pôr-do-sol, além de ouvir música de boa qualidade por um preço simbólico de R$ 2, basta chegar um pouco mais cedo e admirar a memorável vista para a Baía de Todos os Santos. O local, que já foi um antigo engenho de cana-de-açúcar, inspira todo um clima noir, emanando sensações e vibrações das mais distintas em seus frequentadores.

O ambiente é saudável, propício para encontros românticos ou entre amigos, bater um bom papo, tomar uma cerveja ou, apenas, sentar e meditar ao som do rhythm n' blues e das marolas que cantam na orla da Gamboa. Lá se pode encontrar pessoas das mais variadas e excêntricas, sem distinção de classe, cor, credo e idade.

O MAM abriga, além das exposições ao longo do ano, uma sala de cinema que faz parte do circuito Sala de Arte, uma iniciativa que oferece filmes fora do modelo hollywoodiano e longe da agitação dos shoppings. Vale à pena conferir.

Serviço:

Jamnomam, Museu de Arte Moderna, Solar do Unhão
Todos os sábados, 18:00hs
Ingressos: R$ 2

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Guia para a edição jornalística - Capítulo 1: Couraça de Caráter

ATIVIDADE: Fazer fichamento do capítulo 1, do livro "Guia para a edição jornalística", de Luiz Costa Pereira Junior, para a matéria Design Gráfico, sob orientação da professora Márcia Guena. Sendo assim, para melhor absorção do conteúdo, será necessário fazer associações entre a teoria e a prática jornalística, exemplificando com modelos de notícias veiculadas pelos meios de massa.

Em
Couraça de caráter o autor, Luiz Costa Pereira Junior, inicia seu escrito levantando uma gama de questionamentos, contestações e possíveis alternativas para o trabalho exercido no cotidiano das redações, dos veículos de comunicação responsáveis de prover o leitor, não menos cidadão e consumidor, do seu direito à informação de qualidade.


Para Costa, a atividade jornalística carrega o peso da responsabilidade na confiança que a consciência coletiva nutre pelo profissional de imprensa. Devido a isso, é imprescindível que estes profissionais, por serem conhecedores dos processos de produção da notícia, jamais desapontem o leitor que lhes dão crédito. O autor, durante o texto, lança mão constantemente do termo "caráter", que se refere às decisões editoriais impregnadas de conceitos e valores subjetivos sobre critérios de trabalho, casos de impasse ético, interferência organizacional no cotidiano da Redação, que resultam em pressões profissionais das mais variadas linhas.


Neste capítulo, o autor retrata o papel fundamental que o editor exerce numa Redação, de modo que, este se beneficia de tal influência que pode comprometer todo o conteúdo de um trabalho e, conseqüentemente, alterar a ordem do comportamento coletivo, direcionando seu pensamento, de acordo com o enquadramento dado aos fatos, quer seja enaltecendo ou omitindo certos aspectos que estejam de acordo com a linha editorial da lógica empresarial.

Costa não deixa de ressaltar as atividades atribuídas ao editor. Além do exercício da profissão, este deve estar apto a exercer funções nem sempre relacionadas às práticas jornalísticas, a despeito da administração de pessoal, de recursos financeiros e da mediação da redação com o macro-ambiente, gestores detentores dos meios de produção.


De acordo com o autor, editar é o exercício da conquista, uma sedução sem sexo, é valorizar a informação, dar peso à notícia, hierarquizar, não obstante, filtrar e controlar o que pode e o que deve ser dito ou escrito, por meio de triagens que dão ênfase à redação jornalística e à captação de imagens, fotos etc. Tecnicamente falando, segundo Costa, em se tratando de veículo impresso, editar é definir um espaço, determinar seu lugar, considerar se haverá foto e o seu tamanho, privilegiar o trabalho feito no tempo e no espaço estipulado.


Segundo Costa, o editor é quem determina o valor de um fato. Valor este que pode flutuar ao sabor das "(in)gerências". A seleção de notícias é feita, na maioria dos casos, de acordo com interesses políticos, econômicos ou morais dos grupos controladores de um veículo, resultando na censura e distorção da informação.

Os pretextos de caráter de edição da notícia, exponenciados por Costa, levam em consideração parâmetros profissionais, pressupostos técnicos e limitações do trabalho. Critérios universalizados para sustentar escolhas que, na verdade, são subjetivas, particulares. Esse comportamento resulta no que Umberto Eco classificou como um "constrangimento" à individualidade do profissional de imprensa, dissimulado pelas determinações técnicas e sociológicas da mídia.

É nesse contexto que o autor utiliza o termo gatekeeper, ou seja, que está relacionado às formas de controle da informação, criadas pelos veículos. Costa exemplifica, usando o questionamento de David Manning White, sobre por que uns fatos viram notícia e outros, não. A resposta é: porque há um filtro. E este filtro se utiliza das mais diversas justificativas, como a falta de espaço ou de interesse jornalístico. Sendo assim, White notou que as regras profissionais são mais fortes que as preferências pessoais. Desse modo, muito do que é produzido acaba sendo barrado por motivos desconhecidos.


O autor enfatiza que, por causa dessa filtragem da informação, a comunicação, por conseguinte, obtém efeito limitado, pois, depende da capacidade de discernimento do receptor. Ainda assim, este consumidor, por sua vez, já não é tão livre, à medida que consome um produto pré-selecionado, direcionado.

Costa destacou as observações de White e Breed, nos anos 50, segundo os quais a estrutura burocrática da organização, bem como as interações promovidas no âmbito profissional influenciam a produção jornalística. Como resultado, se estabelecia um conformismo generalizado entre os profissionais através de um processo gradativo de estímulo e punição. Tal atitude culminaria em um trabalho autômato que pouparia o jornalista das correções e repreensões promovidas por seus superiores.


Entretanto, Breed notou que algumas dessas normas, muitas delas não-institucionalizadas, eram passíveis de fornecer lacunas para um exercício profissional independente. Essas vias dependeriam da propriedade de conhecimento no terreno a ser adentrado, o que Breed classifica como "saberes transversais". Para tanto, será necessário que o jornalista possua a capacidade de identificar fatos valorosos, saiba o que fazer no levantamento de informações e saiba construir textos agradáveis e atraentes.


Para Costa, a assiduidade das rotinas de edição, o habitus noticioso, implica em pautas repetitivas, sem diversidade. O habitus, nesse caso, tem algo a ver com a teoria behaviorista, onde as práticas de observação de situações repetidas seriam absorvidas num processo de osmose organizacional. As conseqüências dessas ações resultariam, então, no procedimento de antecipação dos acontecimentos. Desse modo, o "faro" jornalístico se tornaria habitus, dispensando demasiada reflexão.


Outro aspecto interessante, destacado pelo autor, é a indagação sobre o que é de interesse público, de fato. Ele observa que muito do que é produzido é feito em função da concorrência, seja esta entre veículos ou entre profissionais da área, pois, uns são leitores dos outros e têm medo de arriscar, de inovar. Sendo assim, os jornais ficam cada vez mais parecidos, tanto em aparência quanto em conteúdo.

Esse comportamento é o que Umberto Eco classifica como "cortina da obviedade", que tem como efeito a sensação de algo já visto, o que torna cansativo o consumidor e, até mesmo, o profissional da informação. Na corrente do mesmo pensamento, Ignácio Ramonet utiliza o termo "bola de neve auto-intoxicante", pois, quando um veículo divulga um fato considerado importante, os outros o segue. É o que se pode chamar de "pautar a agenda".

Costa conclui que o habitus nada mais é que a sucessão de atos repetitivos no ambiente da Redação, passível de sofrer alterações ao calor de acontecimentos inusitados, que necessariamente quebrariam a rotina organizacional, exigindo reflexão e cálculo, a fim de garantir um melhor resultado editorial.