sexta-feira, 24 de agosto de 2007

Guia para a edição jornalística - Capítulo 1: Couraça de Caráter

ATIVIDADE: Fazer fichamento do capítulo 1, do livro "Guia para a edição jornalística", de Luiz Costa Pereira Junior, para a matéria Design Gráfico, sob orientação da professora Márcia Guena. Sendo assim, para melhor absorção do conteúdo, será necessário fazer associações entre a teoria e a prática jornalística, exemplificando com modelos de notícias veiculadas pelos meios de massa.

Em
Couraça de caráter o autor, Luiz Costa Pereira Junior, inicia seu escrito levantando uma gama de questionamentos, contestações e possíveis alternativas para o trabalho exercido no cotidiano das redações, dos veículos de comunicação responsáveis de prover o leitor, não menos cidadão e consumidor, do seu direito à informação de qualidade.


Para Costa, a atividade jornalística carrega o peso da responsabilidade na confiança que a consciência coletiva nutre pelo profissional de imprensa. Devido a isso, é imprescindível que estes profissionais, por serem conhecedores dos processos de produção da notícia, jamais desapontem o leitor que lhes dão crédito. O autor, durante o texto, lança mão constantemente do termo "caráter", que se refere às decisões editoriais impregnadas de conceitos e valores subjetivos sobre critérios de trabalho, casos de impasse ético, interferência organizacional no cotidiano da Redação, que resultam em pressões profissionais das mais variadas linhas.


Neste capítulo, o autor retrata o papel fundamental que o editor exerce numa Redação, de modo que, este se beneficia de tal influência que pode comprometer todo o conteúdo de um trabalho e, conseqüentemente, alterar a ordem do comportamento coletivo, direcionando seu pensamento, de acordo com o enquadramento dado aos fatos, quer seja enaltecendo ou omitindo certos aspectos que estejam de acordo com a linha editorial da lógica empresarial.

Costa não deixa de ressaltar as atividades atribuídas ao editor. Além do exercício da profissão, este deve estar apto a exercer funções nem sempre relacionadas às práticas jornalísticas, a despeito da administração de pessoal, de recursos financeiros e da mediação da redação com o macro-ambiente, gestores detentores dos meios de produção.


De acordo com o autor, editar é o exercício da conquista, uma sedução sem sexo, é valorizar a informação, dar peso à notícia, hierarquizar, não obstante, filtrar e controlar o que pode e o que deve ser dito ou escrito, por meio de triagens que dão ênfase à redação jornalística e à captação de imagens, fotos etc. Tecnicamente falando, segundo Costa, em se tratando de veículo impresso, editar é definir um espaço, determinar seu lugar, considerar se haverá foto e o seu tamanho, privilegiar o trabalho feito no tempo e no espaço estipulado.


Segundo Costa, o editor é quem determina o valor de um fato. Valor este que pode flutuar ao sabor das "(in)gerências". A seleção de notícias é feita, na maioria dos casos, de acordo com interesses políticos, econômicos ou morais dos grupos controladores de um veículo, resultando na censura e distorção da informação.

Os pretextos de caráter de edição da notícia, exponenciados por Costa, levam em consideração parâmetros profissionais, pressupostos técnicos e limitações do trabalho. Critérios universalizados para sustentar escolhas que, na verdade, são subjetivas, particulares. Esse comportamento resulta no que Umberto Eco classificou como um "constrangimento" à individualidade do profissional de imprensa, dissimulado pelas determinações técnicas e sociológicas da mídia.

É nesse contexto que o autor utiliza o termo gatekeeper, ou seja, que está relacionado às formas de controle da informação, criadas pelos veículos. Costa exemplifica, usando o questionamento de David Manning White, sobre por que uns fatos viram notícia e outros, não. A resposta é: porque há um filtro. E este filtro se utiliza das mais diversas justificativas, como a falta de espaço ou de interesse jornalístico. Sendo assim, White notou que as regras profissionais são mais fortes que as preferências pessoais. Desse modo, muito do que é produzido acaba sendo barrado por motivos desconhecidos.


O autor enfatiza que, por causa dessa filtragem da informação, a comunicação, por conseguinte, obtém efeito limitado, pois, depende da capacidade de discernimento do receptor. Ainda assim, este consumidor, por sua vez, já não é tão livre, à medida que consome um produto pré-selecionado, direcionado.

Costa destacou as observações de White e Breed, nos anos 50, segundo os quais a estrutura burocrática da organização, bem como as interações promovidas no âmbito profissional influenciam a produção jornalística. Como resultado, se estabelecia um conformismo generalizado entre os profissionais através de um processo gradativo de estímulo e punição. Tal atitude culminaria em um trabalho autômato que pouparia o jornalista das correções e repreensões promovidas por seus superiores.


Entretanto, Breed notou que algumas dessas normas, muitas delas não-institucionalizadas, eram passíveis de fornecer lacunas para um exercício profissional independente. Essas vias dependeriam da propriedade de conhecimento no terreno a ser adentrado, o que Breed classifica como "saberes transversais". Para tanto, será necessário que o jornalista possua a capacidade de identificar fatos valorosos, saiba o que fazer no levantamento de informações e saiba construir textos agradáveis e atraentes.


Para Costa, a assiduidade das rotinas de edição, o habitus noticioso, implica em pautas repetitivas, sem diversidade. O habitus, nesse caso, tem algo a ver com a teoria behaviorista, onde as práticas de observação de situações repetidas seriam absorvidas num processo de osmose organizacional. As conseqüências dessas ações resultariam, então, no procedimento de antecipação dos acontecimentos. Desse modo, o "faro" jornalístico se tornaria habitus, dispensando demasiada reflexão.


Outro aspecto interessante, destacado pelo autor, é a indagação sobre o que é de interesse público, de fato. Ele observa que muito do que é produzido é feito em função da concorrência, seja esta entre veículos ou entre profissionais da área, pois, uns são leitores dos outros e têm medo de arriscar, de inovar. Sendo assim, os jornais ficam cada vez mais parecidos, tanto em aparência quanto em conteúdo.

Esse comportamento é o que Umberto Eco classifica como "cortina da obviedade", que tem como efeito a sensação de algo já visto, o que torna cansativo o consumidor e, até mesmo, o profissional da informação. Na corrente do mesmo pensamento, Ignácio Ramonet utiliza o termo "bola de neve auto-intoxicante", pois, quando um veículo divulga um fato considerado importante, os outros o segue. É o que se pode chamar de "pautar a agenda".

Costa conclui que o habitus nada mais é que a sucessão de atos repetitivos no ambiente da Redação, passível de sofrer alterações ao calor de acontecimentos inusitados, que necessariamente quebrariam a rotina organizacional, exigindo reflexão e cálculo, a fim de garantir um melhor resultado editorial.