Texto: Ivan Lessa
Não fui eu quem disse. Deu no jornal. Num artigo de Scott Rosenberg. Saiu no The Guardian. Scott é co-fundador do prestigiadíssimo sítio Salon, autor do livro Sonhando em Código e blogueia em wordyard.com.
O autor e blogueiro começa seu artigo dizendo que, neste impagável ano da graça de 2007, o ato de bloguear está completando 10 anos de vida.
Em seguida, põe o fato em dúvida: argumenta que é o que dizem. Que o apagar de velinhas merece ser posto em dúvida. Portanto, logo de início, o jornalista, autor, sitiante e blogueiro põe na mesa as credenciais.
Faz o que toda gente dessa estirpe deve fazer: levantar dúvidas. Como bom blogueiro. Dúvidas quanto ao aniversário. Verdade que a cara dele foi livrada pelo próprio, uma vez que optou pela solução Gutemberg.
Fosse no blogue dele, lá estariam os habituais 81 comentários: xingando, duvidando, dando dados, subtraindo informações. O de sempre, enfim.
Tudo bem. Bloguear é sobre os amadores passarem a bola por entre as pernas dos profissionais e deixá-los caídos de bunda no meio do campo.
Parafraseio um trecho de Rosenberg, que insiste no fato de não haver uma data precisa para a comemoração. O Wall Street Journal, que não é bem uma publicação de se jogar fora, afirmou em artigo recente que o “primeiro blogueiro” (atenção para as aspas) foi um cavalheiro por nome Jorn Barger, com um – para dar o nome de batismo completo – weblog intitulado Robot Wisdom, ou seja, sabedoria robô.
Besteira do Journal: choveram reclamações, blogueou-se adoidado por este mundo afora, todos blogueadores gozando e reafirmando o fato de que não tem jeito mesmo, jornal e jornalismo nunca irão publicar as coisas direitinhas como eles são, foram ou deixaram de ser.
Mais um confronto entre papel e eletrônica. Esta última, ao que parece, ganhando de lavagem, ao menos em números.
Certos fatos (ou factos)
Em primeiro lugar, toda a graça dos blogues é que não há fatos. Há suposições, há versões, há interpretações. O mundo é muito pessoal e só pessoalmente há como entendê-lo e interpretá-lo.
Mais: o mundo começa em casa, diante do computador e o longo e, por vezes, doloroso processo de pesquisar as coisas que vai se bloguear.
Ainda mais: o blogue é, em sua essência, um ato de generosidade. Não se está ganhando dinheiro quando se denuncia o verdureiro da esquina cobrando mais caro pelo jiló ou se critica a política externa do Irã ou dos Estados Unidos.
Ou ainda se posta (post?) um clipe da Ava Gardner ou do Errol Garner tocando Laura no piano. É a pura vontade de se botar para fora, em ordem e pensado, o que se passou e passa pela cabeça do indivíduo. E o que a ele dá prazer ou alegria.
Eu, cá entre nós, sou chegado aos blogues que lidam com as coisas que me falam mais de perto aos meus interesses: música popular de qualidade, cinema, passadismos.
Política me deixa gelado. Meu negócio é papo. Não entra na fila dos comentários por pura timidez. Embora já tenha entrado, dados meus pontapés e dito minhas besteiras.
Sem livro, please
Os blogues já foram reunidos e publicados em livro. Em muitas línguas. Principalmente em inglês, que é a língua da Net. Até agora. Já teve livro inclusive em nosso português.
Antes, claro, da reforma ortográfica que vem aí. No que aproveito para dar – não usarei o termo “pauta” – uma deixa: blogueiem com fúria essa reforma. Com fervor: por favor.
Mas eu dizia que blogue em livro não funciona. Mesmo. Vira velho de terno e gravata de pé em frente à praia com a mão direita no bolso urubuservando as mocinhas que passam. Há uma certa obscenidade no blogue em formato de livro.
Blogue, essa a verdade, é o maior buteco do mundo. Buteco, sim, senhor. Com U. O que só se pode discutir em blogue. Outro que também merece uma lenha: é blog ou blogue? É site ou sítio? Eu prefiro sítio. Porque me lembra o Picapau Amarelo. Eu prefiro blogue. Talvez porque tenha uma pinta assim de blague.
Senta aí, companheiro. Puxe uma cadeira. Vai querer o quê? Uma cerveja estupidamente gelada? No problemo, como dizem os Bart Simpson da vida. Diga lá. Vamos.
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